O Cérebro Intuitivo – Capítulo 1 – O passado está sempre presente

Essa é uma série de posts sobre o Livro O Cérebro Intuitivo, do autor John Bargh, onde ele fala sobre o nosso passado evolutivo e processos inconscientes do cérebro que moldam nosso comportamento.

Parte 1 – O passado oculto / Capítulo 1 – O passado está sempre presente

Como seres humanos passamos por perigos e dificuldades ao longo da evolução da espécie, nossos sistemas adaptativos inconscientes do cérebro foram moldados e aguçados cercados por esses perigos e dificuldades.

Não temos memória desse passado, nem lembranças da nossa evolução. Ela está oculta, porém influencia profundamente o que pensamos, dizemos e fazemos no presente, por isso podemos dizer que o ser humano não é um quadro em branco.

Há muitas coisas que são ocultas para nós, por exemplo temos duas necessidades fundamentais e primitivas que afetam o que pensamos e fazemos, elas são sutis e inconscientes:

  • Necessidade de sobreviver
  • Necessidade de acasalar

Na vida moderna elas operam sem o nosso conhecimento, e podem impedir de enxergarmos as razões reais por trás do que sentimos ou do que fazemos.

Podemos compreender melhor o presente retirando as camadas desse passado oculto e expondo a maneira pela qual a sobrevivência e a reprodução estão sempre atuando em nossas mentes sem a gente perceber.

A necessidade de sobreviver:

Você já deve ter ouvido falar do sistema de luta ou fuga, que é quando precisamos reagir de imediato a situações perigosas. Ele é ativado pelo sistema de sobrevivência, que herdamos dos nossos ancestrais primitivos.

Nossos mecanismos reflexos e automáticos – ou os instintos – nos protegem fisicamente, eles ultrapassam os processos mentais mais lentos, e nos ajudam a lidar com um mundo agitado em tempo real. Como quando você desvia de uma bola vindo em sua direção, ou sai correndo ao ver um animal selvagem, você não pensa, apenas faz.

É como se tivéssemos um radar interno que capta eventos importantes no mundo ao nosso redor, sem ter de parar para avaliá-los conscientemente.

Um outro fato interessante sobre esse radar interno é a capacidade que temos de detectar os aspectos da personalidade e do comportamento das pessoas que são mais importantes para nós, mesmo com nossa mente muito ocupada conseguimos ter essa percepção e reagimos à ela.

Essa é uma habilidade que podemos desenvolver com o tempo e com muita prática, assim como outras habilidades que adquirimos ao praticar por muito tempo, aquilo se torna natural pra nós.

Nesse ponto temos dois conceitos importantes:

  1. Existem as motivações inconscientes para a sobrevivência e a segurança física que evoluíram com a espécie;
  2. Existe a nossa capacidade para detectar honestidade, timidez ou inteligência nas outras pessoas, mesmo com a velocidade das condições do mundo real.

Sobre esses dois pontos podemos afirmar que:

  • Já está embutido em nós as motivações básicas para segurança e sobrevivência.
  • O radar para pessoas é uma habilidade que foi desenvolvida a partir da experiência prática.

Um bom exemplo é a diferença entre respirar e dirigir:

RespirarDirigir
Nascemos com essa habilidadeTivemos que aprender (mesmo aqui circuitos evolucionários operam)

Ambos operam sem muita orientação consciente. Dirigir bem requer prática e experiência, assim como uma aptidão para desenvolver um radar para pessoas requer experiência e prática.

A mente humana cria novos “adendos” inconscientes úteis – a partir da nossa experiência pessoal com o mundo – e adiciona aos que já temos embutidos em nós ao nascer. Isso vale para dirigir, andar de bicicleta, ler e etc. Depois que você aprende e pratica muito, consegue fazer essas coisas sem precisar pensar.

Nosso cérebro ainda vive na época “pré-histórica”, o impulso de segurança física é um legado poderoso que influencia a mente.

Sob ameaça ou medo, as pessoas assumem menos riscos e resistem a mudanças, que podemos definir como uma atitude conservadora. Atitudes conservadoras na política por exemplo podem ter uma motivação inconsciente para a preservação da segurança física e da sobrevivência. Nossas atitudes políticas são profundamente influenciadas por nosso passado evolucionário.

Nossa segurança física tem muito a ver também com evitar o contato com germes e doenças. E podemos ver isso na prática através das emoções espontâneas, as emoções espontâneas e involuntárias que experimentamos e expressamos para os outros são um traço evolutivo que nos ajudou a sobreviver e ter segurança física.

Quando vemos alguém fazer uma expressão de nojo ou desgosto, sabemos imediatamente que aquilo não é bom, logo manteremos distância e evitaremos o contato.

Existem os chamados estados emocionais universais:

  • São emoções nativas na mente e corpo humanos;
  • Em qualquer cultura demonstramos as mesmas emoções, usando os mesmo músculos faciais e expressões;
  • Evoluímos para sentir e expressar emoções de forma automática e involuntária. Isso garantiu nossa sobrevivência;
  • Não escolhemos ter determinadas emoções, mas elas são úteis, tem algum propósito;

A necessidade de acasalar

Expressar uma emoção involuntária tem a função de comunicar algo as pessoas que nos cercam. Isso faz parte da cooperação uns com os outros, outro componente dos impulsos humanos de sobreviver e reproduzir.

Nós cooperamos apenas com quem sentimos que podemos confiar. Aprender e saber em quem podemos ou não confiar é uma de nossas grandes tarefas na vida. É aqui que a habilidade de detectar os aspectos da personalidade e do comportamento das pessoas vai nos ajudar.

Nossos genes cuidam da nossa segurança e sobrevivência para que possamos nos reproduzir. Tudo que nossos genes querem é chegar a geração seguinte, logo muitas das nossas atitudes e comportamentos serão guiados por essa condição.

Resumindo o que falei até aqui temos duas influências inconscientes agindo em nosso cérebro:

  • Passado evolucionário de sobrevivência e reprodução;
  • Passado pessoal de experiência precoce;

No próximo artigo falarei sobre o segundo item, até lá.

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